26 de jun. de 2006

Orkut, Fotologs e o Professor Pasquale

Orkut, Fotologs e o Professor Pasquale


Prezadas pessoas que me lêem neste momento: o assunto aqui abordado parece ser a praga do século – a facilidade da comunicação digital. Claro, quando se trata de nós mesmos é uma grande facilidade. Achar amigos de infância, parentes dados como perdidos no mundo, mostrar pra esses parentes distantes através de fotos como estamos bem “gordinhos e felizes”, ou magrinhos e felizes também - por que não? – é realmente algo dadivoso.

O problema é quando a facilidade digital é a do ser amado. O orkut dele é uma fonte de estresse, o fotolog dele igualmente. Mas o pior pesadelo de uma mulher descolada, são as amigas de “dotes maximizados”, porém “intelectualmente carentes” dele e seus posts maravilhosos do tipo: “ouheaheaixx oix fofuxuh t dolo!” Fazendo um baita esforço e tentando lembrar do tempo em que meu irmão caçula tinha uns 3 anos, e a gente tentava entender o que ele tentava dizer, dá pra entender algo como “oi, fofo, te adoro”. Está bem, passa. Sem maionese, mas passa...mas irrita...

O orkut, principalmente e o fotolog, são páginas públicas que qualquer um pode não só olhar, mas também mostrar o quanto é “sem noção”, ou non sense para quem ainda não está muito familiarizado com o meio. Para quem convive com esse pesadelo digital, porém não-virtual, pior que um recado maldito deixado para ele é um recado maldito e mal-escrito deixado para ele.

“Tipo assim”: “hummm (...), ja ouvi mto seu nome nas conversas do (...). E por falar em capuccino, tomamos isso na ultima vez q saímos ;P”. Qualquer criatura que conheça um mínimo da língua de nossa pátria-mãe entende que os dois, a criatura que postou e seu ser amado saíram para tomar um capuccino. Até que você descobre que a “criatura” e o tal do (...) é que foram tomar um capuccino juntos e não ela e seu namorado. Mas até que tudo fique muito bem explicado, a porca torce o rabo. Umas três vezes pelo menos.

Passa a tempestade, vem a calmaria... e outro post maldito: “naum acreditasse no que f0o0ofo0o0o0? Uihaiuhiuahuaihauih bjo0o0o0o0o pra ti”.

Vamos analisar a frase: “Naum acreditasse no que fofo”... imagina-se a criatura dizendo para seu namorado: que fofo! e ele não acredita e ela vai lá no fotolog dele e coloca isso como prova do quanto ele é fofo... Mais uma tempestade, mais um palavrório e um rosário de elogios às amigas dele para descobrir que faltava uma vírgula depois do “que” e antes do “fofo”, que em português ficaria mais ou menos assim: “Não acreditaste no quê, fofo?”. Outra que desce, sem maionese, mas com vírgula, desce.

Estes pequenos exemplos são para mostrar o quanto complica a vida alheia essa falta de cuidado com a escrita, esse assassínio de nossa língua. Se você tem um amigo(a), e esse amigo(a) tem uma namorada(o) pense um pouco: se gosta dele, cuide com o que escreve, pois o ser amado dele pode não entender a sua linguagem “descontraída”, e sobra exatamente para ele. No entanto se sua intenção é irritar mesmo, irrite,“amiga”, sem ofender o coitado do português que não tem nada a ver com a briga...

O Professor Pasquale bem que tenta, mas vou dizer, está quase se tornando uma tarefa impossível em tempos virtuais. A coisa está mais para Lulu Santos & Herbert Vianna: “Assaltaram a gramática, assassinaram a lógica, (...) seqüestraram a fonética”... e c’est la vie! Cheguei a conclusão que para viver bem é preciso ter além de ouvidos, também os olhos moucos.



Ps: Este texto foi escrito pela Senhorita Adriana Bunn, uma estudante de geografia da UDESC um tanto espevitada, de cabelo vermelho e fogo nas ventas que costuma ler Leminnski, tomar cerveja e tocar violão com os amigos pela manezinha ilha de Santa Catarina e São José.