5 de nov. de 2006

O dia em que eu vesti a camisa da Inglaterra

Quem me conhece de muito tempo sabe que eu nunca fui uma grande simpatizante da Inglaterra. Ah, tudo bem, os Beatles e os Rolling Stones são de lá, os chás e o bolo inglês são muito legais e a minissaia, apesar de ter se tornado praticamente propriedade das brasileiras, surgiu na terra da rainha. Porém, convenhamos, basta estudar um pouquinho de história do Brasil, nos livros de segundo grau mesmo, para atestar que a política externa da Inglaterra, ao menos no que diz respeito ao Brasil, nunca foi das melhores. E não venha me dizer que a Inglaterra ajudou a abolir a escravidão porque sua política era liberdade para todos. Era mesmo liberdade para todos, desde que este “todos” seja um mercado consumidor em potencial e como escravo não comprava nada....
É claro que sempre encarei esta “antipatia” como algo muito racional, bem fundamentado e com toda e absoluta razão de ser e de estender-se a todo o povo inglês. Claramente uma postura preconceituosa não? Entretanto, eis que um dia, há tempos, estou treinando capoeira e chega uma criatura loira, com um cabelão tipo Elba Ramalho, branca, branca, um branco bem diferente dos alemães falsificados do sul do Brasil, acompanhada da Ana, pra jogar capoeira. Pra completar eu percebi que ela prestava muita atenção no que a gente falava e quando alguém perguntava algo ela se perdia um pouco nas palavras. Imaginei que ela fosse alemã, finlandesa, sueca, qualquer coisa, até que alguém pergunta e ela diz: eu sou inglesa. Pow ela até parecia ser legal, mas tinha que ser inglesa?Foi a primeira coisa que pensei. Junto com este pensamento percebi o quanto estava sendo preconceituosa e consequentemente burra. Ok, vamos conversar com a inglesinha. Em pouco tempo ela descobriu a minha antipatia pela Inglaterra e pelos ingleses, não por eu ter tido algum ato de xenofobia extrema, mas porque eu sou cara de pau mesmo e falei pra ela, arrematando com o seguinte final: mas você é muito legal.
Não, não foi com um super discurso pró Inglaterra que ela mudou a minha visão preconceituosa sobre os ingleses. Nós conversamos a respeito da visão de cada uma sobre a Inglaterra, de maneira inteligente e deixando os preconceitos de lado, mas não foi somente isto que fez com que eu mudasse meu pensamento preconceituoso para um pensamento realmente racional. O fato é que se na primeira vez que eu falei com a Ciara (a tal inglesinha) eu não tivesse dado espaço para a gente conversar, tivesse ido embora e pensado “ah mais uma gringa querendo sambar!”, eu com certeza teria perdido uma grande amizade. Teria perdido as suas observações engraçadas sobre a política no Brasil (por que os políticos de vcs tocam tanta musiquinha?), sua confusão entre as palavras vô e vó, a constante invenção de palavras novas para a língua portuguesa (recagar o cartão, reguardar, o caracol que usa cachecol...) e a sua visão muito particular de mundo, que rendeu muitas madrugadas e cervejadas com assunto parecia que nunca mais acabava.
A inglesinha Ciara voltou ao Brasil dar uma passeada e matar a saudade há 15 dias atrás. Conheceu o Ronda e aprovou o moço, viramos uma madrugada batendo papo, matei várias aulas na UFSC para conversar com ela. Conseguimos chopp de graça e muitas risadas na trilha da Lagoinha do Leste. E ganhei presente, heheh, um presente que eu nunca esperava ganhar. Jogadas no gramadão da UFSC batendo papo antes da aula, ela tira meu presente da bolsa: uma camisa da seleção inglesa de Rugby. Nunca imaginei que ela me daria isto. No ano em que nos conhecemos eu ainda jogava Rugby e ficava enchendo o saco dela perguntando como era o Rugby na Inglaterra e ela se orgulhando toda, pois a Inglaterra tinha sido Campeã Mundial.
No fim eu vesti a camisa da Inglaterra. Não somente porque eu a ganhei de uma menina que me mostrou que toda e qualquer forma de preconceito é burra e limitante, e que só percebemos o quanto somos preconceituosos quando estamos frente a frente com ele. Também porque se a Inglaterra tem a Ciara, então não deve ser uma terra tão ruim assim.

Ps: Na foto, Bianca, Ciara, Anna e Tati.

3 de nov. de 2006

O cão chupando manga




Redescobrindo algumas coisas que já tinha aprendido, e sei lá por que motivo, desaprendi.Sim, fui o cão chupando manga na infância. Se eu fosse meu pai, não teria tido comigo a paciência que ele teve.Aí descobri uma fase zen...só paz e amor, "no stress", deixa disso, tá estressado, vai surfar, e por aí vai.E quando a gente acha que atingiu o "nirvana", se descuida, e olha o que dá? Olha lá você parecendo o cão chupando manga de novo!
Então descobri que a serenidade exige disciplina, a droga da disciplina tão odiada por seres anarquistas ou anarco-qualquer-coisa, assim que nem eu. E para não se submeter à tal disciplina, se deixa seu cão chupando manga à solta, mordendo as pessoas, rosnando pra outras e às vezes até mordendo o próprio rabo de tanta raiva.
Aos poucos e com valiosa ajuda (amadora, mas bem que poderia ser profissional se quisesse), volto a descobrir que dá pra neutralizar coisas irritantes.Alguém querendo tomar o seu lugar, é uma coisa irritante, mas pra que deixar o mundo desabar ao seu redor, se o seu lugar está muito bem reservado? Aliás, pensando até melhor, é um motivo de alegria saber que alguém queria tanto estar no seu lugar, mas quem está ali é você. É um privilégio ou não é?
É importante saber, claro, que nada no mundo tem garantia, nenhum lugar está reservado "ad infinitum" sem que haja o firme esforço de permanecer nele, e como sou brasileira e não desisto nunca...
A raiva corrói o fígado, portanto prefiro deixar que substâncias etílicas façam mais prazerosamente esse serviço por ela.Mas um aviso aos descuidados: o cão chupando manga não morreu. Tá sendo adestrado, mas se precisar, ele morde, ah se morde!


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Pequeno texto roubado do Orkut da Srta Adriana Bunn sobre o cão cupando manga dela...que provavelmente não é muito diferente do de muita gente..hahhehee